sexta-feira, 16 de novembro de 2012

História da Igreja - Nova Europa em reconstrução

Santo Agostinho de Hipona foi muito ativo  na luta contra o Priscilianismo

Idácio de Chaves foi uma figura importante, bispo num território que pertenceu à diocese de Chaves. Foi no Oriente, em Belém, que conheceu São Jerónimo, e quando regressou lutou contra os bárbaros suevos que, supõe-se, dominariam a nossa zona geográfica. Outra das suas preocupações foi a luta contra as heresias na “Crónica”, nomeadamente contra o Priscilianismo.
O Priscilianismo desenvolveu-se a partir do século IV, nomeadamente na Península Ibérica. Negava a Santíssima Trindade e atribuía a Cristo uma aparência de corpo. Condenavam o matrimónio e a alimentação de carne. Negavam a criação do mundo e a ressurreição de Cristo. Consideravam a alma parte da divindade. Falsificavam as Escrituras e serviam-se de livros apócrifos. Admitiam o fatalismo astrológico.

Bento de Núrsia foi outra figura importante nesta reconstrução. Nascido em Núrsia, na Itália, em 480, a sua vida é conhecida através dos Diálogos do Papa São Gregório Magno.
Filho de proprietários rurais, segundo alguns, teria uma irmã gémea chamada Escolástica. São Bento passou a juventude a estudar em Roma, mas retirou-se da vida da cidade para ir viver para uma comunidade de ascetas. Durante esses anos de solidão, amadureceu as suas ideias e, pela sua conduta, ganhou o respeito de todos à sua volta.
De tal forma que a morte de um abade de um mosteiro das redondezas, que alguns dizem ser de Vicovaro, fez com que a respetiva comunidade escolhesse São Bento como seu abade. Conhecendo a vida e a disciplina do mosteiro e alegando que a sua maneira de viver não estava de acordo com estas, São Bento recusou inicialmente mas, perante a insistência, acabou por dar o seu consentimento. A experiência falhou porque os frades não estavam habituados à maneira dura de viver do santo e tentaram envenená-lo, voltando São Bento para a sua gruta. Os seus milagres tornaram-se frequentes, a partir de então, e muitas pessoas atraídas pela sua santidade vieram viver para Subiaco. Fundou uma comunidade de monges distribuída por doze pequenos mosteiros, em cada um dos quais havia um monge superior e doze monges, mantendo-se o santo abade de todos eles. Nestes mosteiros começaram a funcionar escolas para crianças onde estudaram Mauro e Plácido. Em 529, transferiu-se com os seus monges para o Monte Cassino, onde escreveu a sua famosa Regra e atraiu muitos discípulos e simples fiéis até à data da sua morte com a sua santidade, a sua sabedoria e os seus milagres. Monte Cassino foi fundado no lugar de um antigo templo pagão dedicado a Apolo e São Bento juntou a sua comunidade num único edifício. Ao contrário de Subiaco, Monte Cassino era situado num distrito populoso, com várias dioceses e mosteiros, o que proporcionava o convívio e a visita de prelados, nobres e das restantes classes sociais, tornando-se o refúgio e a proteção dos pobres. Escolástica, a irmã de São Bento, visitava-o uma vez por ano e faleceu numa das visitas tendo vindo a ser enterrada no túmulo que São Bento tinha preparado para si próprio, em Monte Cassino, e onde também veio a ser enterrado. O corpo de São Bento foi trasladado para Fleury, em 693, tendo mais tarde o Papa Zacarias mandado trazer uma parte das suas relíquias para o Monte Cassino. São Bento era conhecido pela sua grande simpatia, carinho e por uma grande capacidade de sacrifício e dedicação à sua comunidade. A Regra de São Bento, escrita em latim vulgar, tem como fontes a Sagrada Escritura, os santos Pacómio, Basílio, Leão Magno, Jerónimo e Agostinho, entre outros. Foi redigida para os cenobitas e é atualmente seguida por Beneditinos, Cistercienses, Camáldulos e outros, tendo sido traduzida em Portugal pela primeira vez em Alcobaça, no século IV. Segundo alguns estudiosos, a Regra de S. Bento foi escrita para leigos, para que estes observassem uma vida o mais próxima possível do Evangelho, e não para clérigos, já que a intenção de S. Bento não era constituir uma ordem ou uma regra para clérigos. Com a imposição por parte da Igreja do estado de clericanismo aos Beneditinos, foi levada a cabo a consequente imposição dos deveres clérigos e sacerdotais. No entanto, as características de leigos permaneceram e distinguem a ordem das restantes. Uma das características da ordem é o trabalho como meio de se atingir o bem e chegar a Deus, a outra é o carácter social da ordem e do seu sentido de comunidade vivendo para o bem dos outros. Seguindo um ideal de pobreza, este é muito diferente do ideal de pobreza defendido por São Francisco de Assis, já que admite alguns poucos bens pessoais e bens da comunidade que podem ser muitos mas devem sempre ser utilizados para benefício do próximo.
São Bento de Núrsia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-17].

Regra de S. Bento
Trata-se de um texto escrito por S. Bento (c. 480 - c. 547) no fim da sua vida, composto a partir de 530. Hoje, admite-se que Bento de Núrsia utilizou uma regra anónima ligeiramente anterior, a Regula Magistri (ou "Regra do Mestre"), cuja redação se deve situar entre 500 e 530.
"Monumento de vastas proporções, de arquitetura sólida", a Regra de S. Bento coloca um abade à cabeça de cada mosteiro (abade deriva do siríaco apa, pai, cuja helenização deu abbas, assim passando ao latim). Se a "Regra do Mestre" determina que o abade deve ser designado pelo predecessor, a Regra de S. Bento prevê a sua eleição pela comunidade, à cabeça da qual será colocado. O abade, segundo S. Bento, deverá amar os seus monges como seus filhos e fazer-se amar por eles.
Rigorosa e exigente no que concerne à disciplina e ao respeito, estrita quanto ao cumprimento do ofício divino, esta Regra distingue-se, todavia, pelo seu carácter humano, fonte de misericórdia e de harmonia. Introduz, igualmente, uma mudança decisiva: as comunidades monásticas, até então a maior parte delas laicas, são a partir de S. Bento compostas de sacerdotes e irmãos leigos.
Nascida das experiências quotidianas da vida comunitária, não seguindo um plano lógico estrito, mas distinguindo-se por um sentido de precisão que atinge os mais pequenos detalhes, serviu de base a todas as regras e textos normativos posteriores.
A princípio com limitada influência, a Regra começou a ser largamente difundida na época carolíngia, com Bento de Aniana, graças à autoridade na Igreja de Gregório, "o Grande", que confere um lugar de destaque a S. Bento e à sua época. Torna-se mesmo, na época românica, o documento fundamental da vida monástica, servindo de modelo a um grande número de novas ordens que a adotam ou nela se inspiram. A ação dos beneditinos (como dos cistercienses, também seguidores da Regra de S. Bento) alterará profundamente a Europa Ocidental e medieval em todos os seus domínios, fazendo com que S. Bento seja considerado o "Pai da Europa", o fundador do ideal europeu. Por outro lado, a Regra de S. Bento unificará e revitalizará o monaquismo ocidental, visto estar melhor adaptada aos novos tempos e aos monges da Europa Atlântica.
Em Portugal, entra com carácter definitivo e de forma clara depois do Concílio Coiança (Castela), em 1020.
A Regra de S. Bento foi o melhor sustentáculo da Igreja Medieval primitiva. Rompendo com o ascetismo intransigente do monaquismo oriental, instituiu uma vida comunitária rigorosa, mas razoável e equilibrada. Os seus vetores fundamentais são a humildade, a pobreza, a obediência ao Padre Abade e o respeito pela liturgia. Seis séculos depois da morte de S. Bento ainda não existia outra regra monástica no Ocidente. Tinha já fornecido 20 papas e inúmeros missionários. O ensino nas abadias beneditinas nos períodos agitados era o único sistema de formação de homens cultos e de administradores, cada vez mais confrontados com formas de governos mais complexas.
Esta Regra ainda hoje se mantém viva em milhares de mosteiros no mundo inteiro.
Regra de S. Bento. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-17].
  

Sem comentários:

Enviar um comentário