Este artigo foi escrito no âmbito das comemorações do nonicentenário do nascimento de S. Bernardo, monge cisterciense, grande propagador da Ordem e defensor da Igreja. Após o Tratado de Zamora, em 1143, celebrado entre Afonso VII, Imperador de Leão e Castela e seu primo Afonso Henriques chegam a Castela Pedro e Sancho, dois monges cistercienses franceses, enviados por S. Bernardo a pedido de Afonso VII. Por toda a Europa, a instalação de monges cistercienses era vista como uma cruzada ocidental com carácter colonizador (havia a necessidade urgente e simultânea de ocupar, desbravar, arrotear e repovoar cristãmente grandes zonas férteis de territórios pouco ou nada povoados) e Afonso VII doa terrenos e concede privilégios, a estes monges, em territórios de Zamora para nele construam um mosteiro e vivam em comunidade com o resto dos seus companheiros. Surge o Mosteiro de Santa Maria de Moreruela, localizado num vale, na margem esquerda do Elba a 30 Km noroeste de Zamora, que vai albergar uma grande comunidade monacal que irá influenciar económica e culturalmente uma grande extensão de territórios, nomeadamente terras de Zamora, Leão, Valladolid, Salamanca e a partir de 1211 o Nordeste Português (terras de Miranda, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Mirandela). Após esta data e durante três séculos o Mosteiro adquiriu e recebeu doações de propriedades em mais de 23 povoações e quintas portuguesas, tendo três povos em posse absoluta (Ifanes, Angueira e Caçarelhos). Durante este tempo de convivência, com os monges cistercienses, as populações destas terras foram sendo influenciadas pelo seu modo e filosofia de vida. O autor, do artigo, enumera essas influências ainda visíveis nos dias de hoje:
1.ª A monumentalidade granítica, simples e despida das igrejas e capelas paroquiais;
2.ª Os portais principais das mesmas igrejas, de arcos apontados ou de meio ponto e com arquivoltas lisas; 3.ª A promoção da exploração do ferro pele Mosteiro e a sua manipulação na forja;
4.ª A fabricação intensiva e extensiva das lãs regionais, transformadas em mantas e buréis para vestuário e uso doméstico (Capa de Honras);
5.ª A Língua Mirandesa, tradição viva de Moreruela;
6.ª As imagens dos grandes Cristos crucificados, em tamanho natural, de corpos extremamente sofredores e torcidos, ainda conservados em algumas igrejas mirandesas;
7.ª Os grandes soutos de castanheiros centenários que se vislumbras no montes desta região;
8.ª A profunda religiosidade cristã, sobretudo na expressão do culto mariano, da intensa devoção à Santa Cruz e às Paixão de Cristo e das Amas do Purgatório e todo o culto dos mortos.
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