segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Introdução à Sagrada Escritura - A Bíblia na História da Igreja

Caros colegas, aqui vai um pequeno vídeo baseado nos apontamentos fornecidos pelo nosso professor DrºBernardino Henriques, sobre o capítulo da Bíblia na História da Igreja, do período apostólico ao século XXI. Espero que gostem e que seja útil como ferramenta de apoio ao estudo da disciplina de Introdução à Sagrada Escritura.

Aproveito para desejar a todos boas entradas e que 2013 seja o concretizar dos vossos sonhos!


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Introdução à Sagrada Escritura - Apontamentos (resumo)

Percurso histórico da Bíblia na Igreja - Do período apostólico ao Concílio de Trento

O percurso histórico da Bíblia ao longo da História da Igreja foi algo atribulado. A Bíblia acompanhou a Igreja logo nos seus primeiros tempos. Após a morte de Jesus, os discípulos liam e meditavam o Antigo Testamento, faziam-no juntamente com os outros judeus nas sinagogas. No entanto, quando descobriram no Ressuscitado o próprio Senhor do Universo, o Filho de Deus feito homem para redimir o mundo, inspirados pelo Espírito Santo, tal como Jesus prometera antes da sua Paixão, começaram a escrever todo o acervo de doutrina que tinham ouvido ao Mestre de Nazaré, a quem tinham acompanhado durante três anos de vida pública.
Surge um dilema junto dos primeiros cristãos: deviam continuar a ler a Torá, os Profetas, os Escritos e os Salmos, ou os escritos dos Apóstolos? Deviam seguir Moisés ou Jesus?.
Seguindo a doutrina de S. Paulo, que via na Igreja o Novo Israel, optaram por aceitar os dois Testamentos, até porque os padres apostólicos concluíram que o Antigo Testamento era profecia do Novo Testamento e este o pleno cumprimento do primeiro..
Num intenso trabalho de seletividade, foi-se clarificando o conjunto de livros que a Igreja deveria aceitar como inspirados, ou seja, aqueles que entroncando na doutrina de algum apóstolo, eram lidos e explicados nas assembleias dominicais ou citados pelos homens santos que estavam à frente das diversas igrejas, do Ocidente a Oriente, como S. Justino, S. Irineu de Lyon, S. Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago, Orígenes, S. João Crisóstomo, S. Jerónimo e S. Agostinho.
Até ao século XIII, a Bíblia foi incessantemente objeto de leitura e de meditação, não se pondo em causa a língua em que ela estivesse traduzida. Só a partir desse século, com o aparecimento de pessoas que se julgavam iluminadas é que a Igreja decidiu intervir, condenando albigenses, cátaros e valdenses, Wiclef e Huss, e proibindo traduções.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Introdução à Liturgia

A apresentação do último livro do Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, em Bragança, na semana passada, foi, também, a primeira "introdução" à disciplina de Liturgia, ministrada pelo bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro e cujo conteúdo foi gentilmente cedido para os alunos do IDEP.

"É-me muito grato estar aqui nesta noite da vigília da solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, para apresentar o último livro publicado (porque sabemos que decorre a publicação Opera Omnia e está prestes o texto memórias e escritos do Vaticano II), JOSEPH RATZINGER-BENTO XVI, Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus, editado em Portugal pela Principia. É uma grande honra apresentar este excelente estudo «da pesquisa pessoal» de J. Ratzinger que é o Papa Bento XVI.
Do tríptico Jesus de Nazaré, o livro que apresentamos, não é propriamente o 3º volume, como adverte o próprio autor logo no prefácio «não se trata do terceiro volume, mas de uma espécie de pequeno “pórtico” ou “sala de entrada” dos dois volumes anteriores sobre a figura e a mensagem de Jesus de Nazaré». A tese central assenta na verdade da fé: Jesus é plenamente homem e plenamente Deus.
O conjunto da obra Jesus de Nazaré, (O primeiro volume da obra foi prefaciado na festa de S. Jerónimo, 30 de Setembro de 2006; O segundo volume no dia 25 de Abril de 2010, festa de S. Marcos; O terceiro volume, na solenidade da assunção ao céu da Virgem Santa Maria, 15 de agosto de 2012), iniciada há nove anos, tem como objetivo de fundo a compreensão da figura de Jesus, isto é, a sua palavra e o seu agir. Por isso, como escreveu no 2º volume: «é óbvio que as narrativas da infância não podiam entrar diretamente na intenção essencial desta obra. Contudo, a minha vontade é tentar permanecer fiel à minha promessa (cf. premissa ao 1º volume) e apresentar mais um pequeno fascículo sobre essa temática, se me for dada ainda a força para isso».
No primeiro volume tinha tratado um olhar sobre o ministério de Jesus (do Batismo à Transfiguração) em 10 capítulos: 1. O Batismo de Jesus; 2. As tentações de Jesus; 3. O evangelho do reino de Deus; 4. O discurso da montanha; 5. A oração de Jesus; 6. Os discípulos; 7. A mensagem das parábolas; 8. As grandes imagens joaninas; 9. Os dois momentos importantes no caminho de Jesus: a confissão de Pedro e a transfiguração; 10. As afirmações de Jesus sobre si mesmo.
O segundo volume examinou em 9 capítulos o itinerário desde a entrada em Jerusalém até à Ressurreição e com um acrescento a que chamou perspetivas (subiu aos céus, onde está sentado à direita do pai, e de novo há-de vir em sua glória): 1. Entrada em Jerusalém e purificação do templo; 2. O discurso escatológico de Jesus, 3. O lava-pés; 4. A oração sacerdotal de Jesus; 5. A última ceia; 6. Getsémani; 7. O processo de Jesus; 8. A crucifixão e a deposição de Jesus no sepulcro; 9. A ressurreição de Jesus da morte.
Bento XVI diz ainda que procurou interpretar em diálogo com os estudiosos da Bíblia (os exegetas) do passado e do presente o que Mateus e Lucas narram da infância de Jesus. De facto, o autor cita 28 biblistas, conforme as referências bibliográficas e afirma: «No caso de um texto como o da Bíblia, cujo autor último e mais profundo – segundo a nossa fé – é o próprio Deus, a questão sobre a relação do passado com o presente faz parte, inevitavelmente, da própria interpretação. Assim fazendo, não diminui a seriedade da pesquisa histórica, mas aumenta-a» (pags 7-8).

1.      Articulação do livro
O livro articula-se em 4 capítulos com um prefácio e um epílogo. O presente best seller do Papa está 9 línguas em simultâneo e será ainda traduzido em 20 línguas. Na edição portuguesa aparece com 112 páginas.
Partindo do evangelho de João e da pergunta que Pilatos faz a Jesus: «donde és tu?» (Jo 19,9), à qual Jesus ficou calado, abre-se neste livro a investigação acerca da origem de Jesus, do seu ser e da sua missão.
O anúncio do nascimento de João Batista e de Jesus ocupam a reflexão do segundo capítulo. Segundo o Papa: «Mateus e Lucas – cada um à sua maneira – queriam não tanto narrar “historiais”, mas escrever história: história real, sucedida, embora certamente interpretada e compreendida com base na palavra de Deus» (pag. 21).
O terceiro capítulo trata do nascimento de Jesus. A chave hermenêutica da historicidade acompanha todo o texto, como se lê: «Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido “uma vez” típico do mito; mas pertence  a um tempo, que se pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido; o universal e o concreto tocam-se mutuamente» (pag. 58).
No longo quarto capítulo estuda a questão dos magos do Oriente e a fuga para o Egito. Os magos representam a dinâmica da busca da verdade que a humanidade encontra em Cristo.
O epílogo apresenta o mistério de Jesus com 12 anos no Templo de Jerusalém.
O método usado concilia a interpretação histórica com a interpretação teológica – Jesus Cristo real com o Jesus histórico – numa interação entre história e fé.

2.      A anunciação a Maria
É grande o que diz sobre Maria: «é a obediência de Maria que abre a porta a Deus» (pag. 51).
«Só ela podia referir o evento da anunciação, que não tivera testemunhas humanas». (pag. 20). Nos textos da anunciação, a alegria aparece como o dom próprio do Espirito Santo. «“Alegra-te, ó cheia de graça”. Esta ligação entre alegria e graça é outro aspeto digno de consideração, na saudação khaire, em grego, as duas palavras – alegria e graça (khara e kharis) – são formadas a partir da mesma raiz. Alegria e graça andam juntas». (pag. 30).
«A própria fé de Maria é uma fé “a caminho”» (pag. 105). «Maria aparece não só como a grande crente, mas também como a imagem da Igreja, que guarda a Palavra no seu coração e a transmite» (pag. 105).
Deus é simples e «o sinal da Nova Aliança é a humildade, a vida escondida: o sinal do grão de mostarda. O Filho de Deus vem na humildade. Os dois elementos andam juntos: a profunda continuidade na história da ação de Deus e a novidade do grão de mostarda escondido» (pag. 24).

3.      A figura de S. José, o justo e fiel
É notável o traço teológico e espiritual que faz de José. O anjo a José só aparece em sonho «mas num sonho que é realidade e revela realidade. Mais uma vez é-nos apresentado um traço essencial da figura de São José: a sua perceção do divino e a sua capacidade de discernimento» (pag. 39). José é «aquele que escuta e é capaz de discernimento, como aquele que é obediente e ao mesmo tempo decidido e criteriosamente pragmático» (pag. 96).

4.      A primeira Páscoa e a Páscoa definitiva (Natal-Páscoa)
«O parto virginal e a ressurreição real do túmulo – são verdadeiro critério da fé» (pag. 51).
«Quanto mais uma pessoa se aproxima de Jesus, mais envolvida fica no mistério da sua Paixão» (pag. 103).
«As palavras de Jesus nunca cessam de ser maiores do que a nossa razão; superam, sempre de novo, a nossa inteligência… Crer significa submeter-se a esta grandeza e crescer pouco a pouco rumo a ela» (pag. 105).

Concluo, a breve apresentação deste livro encantador e desafiante, com as palavras de S. Bento: «nada, absolutamente nada anteponham a Cristo». Bento XVI, que escolheu como patrono do seu pontificado S. Bento, continua com mais este texto precioso a mostrar os mistérios de Cristo. Em jeito de confidência, quando saudei o Santo Padre após a nomeação para Bispo de Bragança-Miranda, disse-lhe que S. Bento era o padroeiro da nossa Diocese, a única na Península Ibérica sob este padroado, e ele respondeu-me. «Então, estamos ainda mais unidos».
Boa noite e obrigado pela vossa atenção e paciência.

                                                                                              + José Cordeiro"


sábado, 8 de dezembro de 2012

A Infância de Jesus


A infância de Jesus é o tema abordado no último livro lançado pelo Papa Bento XVI e apresentado ontem em Bragança por D. José Cordeiro, bispo diocesano, que, ao mesmo tempo, fez como que uma introdução à primeira aula de Liturgia no âmbito do curso de Ciências Pastorais do reativado Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP).
Segundo D. José, esta obra do Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, é um precioso contributo para a vivência do Advento, fruto de uma pesquisa pessoal bastante aprofundada e que se insere numa espécie de conjunto tríptico da história de Jesus, num sentido de leitura teológica, como fizeram outros grandes teólogos.
A Infância de Jesus surge, assim, como um pequeno "pórtico" ou "sala de estudo" cujo tema central é a verdade da fé: Jesus é plenamente homem e plenamente Deus. Recorde-se que o primeiro livro deste "tríptico" é um olhar sobre o ministério de Jesus desde o Batismo à Transfiguração e o segundo sobre o itinerário de Jerusalém à Ressurreição.
A intenção do Papa é, assim, ressituar a leitura da Bíblia e a leitura teológica da mesma. É na Liturgia que a Escritura passa a ser Palavra de Deus, devendo ler-se a partir de Jesus Cristo. Aliás, todos os 72 livros da Sagrada Escritura se resumem a Jesus de Nazaré e o Papa usa essa ideia começando a obra a partir do mistério da Páscoa, pois só aí é inteiro. O Natal, que só passou a celebrar-se a partir do século IV, é manipulável, é uma data em que, por vezes, fazemos Deus à nossa imagem. Neste aspeto, esta obra não vem dizer nada de novo e muitos dos aspetos que têm sido realçados como "maiores", não passam de detalhes.
A infância de Jesus trata de uma criança mas é um livro para adultos, adultos na fé. É um livro de investigação acerca de Jesus que parte dos Evangelhos de Mateus e de Lucas, Evangelhos que são história. Esse é um dos aspetos que distingue o Cristianismo - Deus fez-se homem, não filosofia ou teologia, e este é o maior desconcerto da fé. A história de Jesus não é o "era uma vez", aconteceu mesmo, num tempo geográfico, tocando o universal e transcendente.
Esta é, portanto, uma obra que concilia harmoniosamente a história e a fé.

A Anunciação a Maria

Há um capítulo do livro que é dedicado a este tema. D. José quis destacar a obediência de Maria na abertura a Deus, mas também Deus que esperou a resposta de uma rapariga. O eterno, o "kairos", beijou o tempo no seio de Maria e isto é interessante porque, muitas vezes, as pessoas pensam Deus de uma forma quase irracional e "caricaturada", um Deus em que não se pode acreditar. A pretensão do homem é ser Pai de Deus quando o conceito de fraternidade, tão propagado pela Revolução Francesa, ao pressupor que somos todos irmãos, pressupõe que temos um mesmo Pai - e isto é uma questão de inteligência, embora Deus ultrapasse a nossa inteligência.
Na verdade, só Maria podia testemunhar a Anunciação pois só Ela a viveu. É como que uma nova Criação, ao sexto mês, numa correspondência com o sexto dia - criação do homem.
A alegria aparece aqui como um dom do Espírito Santo.A alegria de Maria era uma fé a caminho. A Sua vida é uma peregrinação na fé. Maria aparece como a grande crente. E Deus é simples, dá-nos assim um sinal da Nova Aliança, na alegria. Mas esta é uma pequena semente, como um grão de mostarda, idêntico ao que as irmãs um dia ofereceram a D. José.
Por vezes, queremos ver tudo construído rapidamente, esquecemos que o tempo de Deus não é o nosso tempo, é um grão de mostarda. É preciso semear muito para colher algo. Também a Igreja começou numa crise de esperança em que a atitude de Jesus foi como um grão de mostarda escondido, escondido, ainda por cima! Exige a nossa colaboração, o mais difícil pois achamos que já fazemos tanto e fazemos tão pouco. Mas se abrirmos a porta a Deus estamos a abrir a porta a nós próprios, ainda que seja difícil. 
Não esqueçamos que Maria foi uma mulher corajosa, pois se José não correspondesse, seria apedrejada até à morte, assim eram as leis na Mesopotâmia. 

José

José nem sempre é lembrado e tem um papel primordial e dá um exemplo que devemos ter sempre presente na nossa vida. Também ele foi corajoso, mostrando profundidade espiritual. Tinha razões para não aceitar Maria, estava protegido pela lei e todos estariam do seu lado, contra Maria.
José é visitado por um anjo em sonhos, mas num sonho que é realidade. José é obediente, decidido e pragmático. Recorde-se que São José, por persistência do Papa João XXIII, é padroeiro do Concílio Vaticano II, tendo daí surgido a oração a São José.

Relação do Natal e da Páscoa

Tanto na virgindade de Maria como na ressurreição de Jesus o critério de fé baseia-se na Páscoa e o seu mistério é todo o mistério de Jesus. Jesus Cristo é a plenitude. As Suas palavras ultrapassam a nossa inteligência. 
Algumas pessoas acomodam-se na "santa ignorância", o "oitavo sacramento" se assim quisermos. Devemos fazer tudo ao nosso alcance para criar esta oportunidade de ter uma fé esclarecida e convita, que se compromete com a vida, para lhe dar sentido. Não se chega lá só pela perceção inteletual, é preciso praticar com os outros, dando razões da nossa esperança. A fé são gestos e esperança, não apenas palavras. A esperança não é apenas uma ideia, a esperança é uma pessoa, é Jesus Cristo. Só esta fé transforma o coração e a vida e não apenas conjunturas inteletuais. 
"Não temos ouro, nem prata, mas temos a Esperança em pessoa para oferecer - Jesus Cristo". Não são teorias, é o Mistério, não é um enigma.
O Natal tem uma influência franciscana importante em que a representação do presépio, iniciada por São Francisco de Assis, veio sublinhar a humanidade de Jesus Cristo, com a encenação ao vivo e a participação de animais, levado quase a um exagero. Não é preciso por tudo isto de lado, podemos e devemos continuar a promover esta pastoral do Natal, mas sem esquecer que sem Páscoa, sem Eucaristia, não há Natal.
Tem que haver uma integração num único Mistério - Jesus Cristo.
A Páscoa é um sacramento, o Natal é uma celebração. Devemos procurar celebrar num ciclo de um ano a vida de Jesus a começar pela Anunciação, Nascimento, Páscoa e Ressurreição. 
Temos de desmistificar e centrarmos-nos em Jesus Cristo e na historicidade. O relato dos discípulos de Emaús é a prova da Ressurreição, eles convenceram-se que era verdade e deram a vida. Temos também nós de ser coerentes e seguir esse exemplo.
Faltam adultos que testemunhem os valores e que testemunhem de forma credível. Esta tem sido uma das falhas da Igreja. É preciso evangelizar e redescobrir a fé. O problema nem está na formação, está na missão, na atitude da missão. É preciso provocar a inquietação e não apenas ir à missa ao Domingo, isto não é o suficiente. É preciso aprofundar as razões da fé e passar o testemunho. A fé, antigamente, dizia-se até, transmitia-se pelo leite materno, aprendia-se em casa o Credo, aprendia-se em casa, na igreja e na escola. É preciso promover a interdisciplinariedade e criar um ambiente de fé.
O importante, acima de tudo, é semear o grão de mostarda para que ele esteja lá. Pode-se cair do cavalo, pela vida, mas esse não é o processo natural de Deus.
Quantos de nós vivemos a nossa vida à luz do Evangelho? É preciso viver um cristianismo convito e não apenas sociológico. Viver à luz do Evangelho é viver de acordo com os valores da doutrina social cristã. 
Faltam adultos que testemunhem os valores humanos e cristãos. Herdamos a Igreja que temos, mas que Igreja vamos deixar? A Igreja tem de dialogar com as outras estruturas, a Liturgia tem de ser bem preparada para transmitir beleza e simplicidade. 
Os leigos também precisam de estar bem preparados porque depressa passamos da fé à ideologia, embora seja fácil saber até onde vai a nossa missão, cada um deve fazer tudo e só o que lhe compete. Tem de haver diversidade, exigência e não apenas rituais. A liturgia é uma ética e é, por isso, espiritualidade. Se não estiver convencido, como posso ajudar outros à conversão? Posso facilitar o caminho a outros se eu já me encontrei para testemunhar, mas ninguém dá aquilo que não tem.
É, por isso, curioso pensar que a Igreja nunca esteve tão bem na sua história, mas não é aqui que está bem. Não temos a mesma pujança de fé, envergonhamos-nos perante outras comunidades espalhadas pelo mundo. Isto tem de nos interrogar. É preciso testemunhar melhor, com autenticidade e inteireza de ter descoberto a felicidade e o máximo das nossas vidas.

Texto baseado na reflexão de D. José Cordeiro, bispo da diocese de Bragança-Miranda