terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Introdução à Liturgia

A apresentação do último livro do Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, em Bragança, na semana passada, foi, também, a primeira "introdução" à disciplina de Liturgia, ministrada pelo bispo de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro e cujo conteúdo foi gentilmente cedido para os alunos do IDEP.

"É-me muito grato estar aqui nesta noite da vigília da solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, para apresentar o último livro publicado (porque sabemos que decorre a publicação Opera Omnia e está prestes o texto memórias e escritos do Vaticano II), JOSEPH RATZINGER-BENTO XVI, Jesus de Nazaré. A Infância de Jesus, editado em Portugal pela Principia. É uma grande honra apresentar este excelente estudo «da pesquisa pessoal» de J. Ratzinger que é o Papa Bento XVI.
Do tríptico Jesus de Nazaré, o livro que apresentamos, não é propriamente o 3º volume, como adverte o próprio autor logo no prefácio «não se trata do terceiro volume, mas de uma espécie de pequeno “pórtico” ou “sala de entrada” dos dois volumes anteriores sobre a figura e a mensagem de Jesus de Nazaré». A tese central assenta na verdade da fé: Jesus é plenamente homem e plenamente Deus.
O conjunto da obra Jesus de Nazaré, (O primeiro volume da obra foi prefaciado na festa de S. Jerónimo, 30 de Setembro de 2006; O segundo volume no dia 25 de Abril de 2010, festa de S. Marcos; O terceiro volume, na solenidade da assunção ao céu da Virgem Santa Maria, 15 de agosto de 2012), iniciada há nove anos, tem como objetivo de fundo a compreensão da figura de Jesus, isto é, a sua palavra e o seu agir. Por isso, como escreveu no 2º volume: «é óbvio que as narrativas da infância não podiam entrar diretamente na intenção essencial desta obra. Contudo, a minha vontade é tentar permanecer fiel à minha promessa (cf. premissa ao 1º volume) e apresentar mais um pequeno fascículo sobre essa temática, se me for dada ainda a força para isso».
No primeiro volume tinha tratado um olhar sobre o ministério de Jesus (do Batismo à Transfiguração) em 10 capítulos: 1. O Batismo de Jesus; 2. As tentações de Jesus; 3. O evangelho do reino de Deus; 4. O discurso da montanha; 5. A oração de Jesus; 6. Os discípulos; 7. A mensagem das parábolas; 8. As grandes imagens joaninas; 9. Os dois momentos importantes no caminho de Jesus: a confissão de Pedro e a transfiguração; 10. As afirmações de Jesus sobre si mesmo.
O segundo volume examinou em 9 capítulos o itinerário desde a entrada em Jerusalém até à Ressurreição e com um acrescento a que chamou perspetivas (subiu aos céus, onde está sentado à direita do pai, e de novo há-de vir em sua glória): 1. Entrada em Jerusalém e purificação do templo; 2. O discurso escatológico de Jesus, 3. O lava-pés; 4. A oração sacerdotal de Jesus; 5. A última ceia; 6. Getsémani; 7. O processo de Jesus; 8. A crucifixão e a deposição de Jesus no sepulcro; 9. A ressurreição de Jesus da morte.
Bento XVI diz ainda que procurou interpretar em diálogo com os estudiosos da Bíblia (os exegetas) do passado e do presente o que Mateus e Lucas narram da infância de Jesus. De facto, o autor cita 28 biblistas, conforme as referências bibliográficas e afirma: «No caso de um texto como o da Bíblia, cujo autor último e mais profundo – segundo a nossa fé – é o próprio Deus, a questão sobre a relação do passado com o presente faz parte, inevitavelmente, da própria interpretação. Assim fazendo, não diminui a seriedade da pesquisa histórica, mas aumenta-a» (pags 7-8).

1.      Articulação do livro
O livro articula-se em 4 capítulos com um prefácio e um epílogo. O presente best seller do Papa está 9 línguas em simultâneo e será ainda traduzido em 20 línguas. Na edição portuguesa aparece com 112 páginas.
Partindo do evangelho de João e da pergunta que Pilatos faz a Jesus: «donde és tu?» (Jo 19,9), à qual Jesus ficou calado, abre-se neste livro a investigação acerca da origem de Jesus, do seu ser e da sua missão.
O anúncio do nascimento de João Batista e de Jesus ocupam a reflexão do segundo capítulo. Segundo o Papa: «Mateus e Lucas – cada um à sua maneira – queriam não tanto narrar “historiais”, mas escrever história: história real, sucedida, embora certamente interpretada e compreendida com base na palavra de Deus» (pag. 21).
O terceiro capítulo trata do nascimento de Jesus. A chave hermenêutica da historicidade acompanha todo o texto, como se lê: «Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido “uma vez” típico do mito; mas pertence  a um tempo, que se pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido; o universal e o concreto tocam-se mutuamente» (pag. 58).
No longo quarto capítulo estuda a questão dos magos do Oriente e a fuga para o Egito. Os magos representam a dinâmica da busca da verdade que a humanidade encontra em Cristo.
O epílogo apresenta o mistério de Jesus com 12 anos no Templo de Jerusalém.
O método usado concilia a interpretação histórica com a interpretação teológica – Jesus Cristo real com o Jesus histórico – numa interação entre história e fé.

2.      A anunciação a Maria
É grande o que diz sobre Maria: «é a obediência de Maria que abre a porta a Deus» (pag. 51).
«Só ela podia referir o evento da anunciação, que não tivera testemunhas humanas». (pag. 20). Nos textos da anunciação, a alegria aparece como o dom próprio do Espirito Santo. «“Alegra-te, ó cheia de graça”. Esta ligação entre alegria e graça é outro aspeto digno de consideração, na saudação khaire, em grego, as duas palavras – alegria e graça (khara e kharis) – são formadas a partir da mesma raiz. Alegria e graça andam juntas». (pag. 30).
«A própria fé de Maria é uma fé “a caminho”» (pag. 105). «Maria aparece não só como a grande crente, mas também como a imagem da Igreja, que guarda a Palavra no seu coração e a transmite» (pag. 105).
Deus é simples e «o sinal da Nova Aliança é a humildade, a vida escondida: o sinal do grão de mostarda. O Filho de Deus vem na humildade. Os dois elementos andam juntos: a profunda continuidade na história da ação de Deus e a novidade do grão de mostarda escondido» (pag. 24).

3.      A figura de S. José, o justo e fiel
É notável o traço teológico e espiritual que faz de José. O anjo a José só aparece em sonho «mas num sonho que é realidade e revela realidade. Mais uma vez é-nos apresentado um traço essencial da figura de São José: a sua perceção do divino e a sua capacidade de discernimento» (pag. 39). José é «aquele que escuta e é capaz de discernimento, como aquele que é obediente e ao mesmo tempo decidido e criteriosamente pragmático» (pag. 96).

4.      A primeira Páscoa e a Páscoa definitiva (Natal-Páscoa)
«O parto virginal e a ressurreição real do túmulo – são verdadeiro critério da fé» (pag. 51).
«Quanto mais uma pessoa se aproxima de Jesus, mais envolvida fica no mistério da sua Paixão» (pag. 103).
«As palavras de Jesus nunca cessam de ser maiores do que a nossa razão; superam, sempre de novo, a nossa inteligência… Crer significa submeter-se a esta grandeza e crescer pouco a pouco rumo a ela» (pag. 105).

Concluo, a breve apresentação deste livro encantador e desafiante, com as palavras de S. Bento: «nada, absolutamente nada anteponham a Cristo». Bento XVI, que escolheu como patrono do seu pontificado S. Bento, continua com mais este texto precioso a mostrar os mistérios de Cristo. Em jeito de confidência, quando saudei o Santo Padre após a nomeação para Bispo de Bragança-Miranda, disse-lhe que S. Bento era o padroeiro da nossa Diocese, a única na Península Ibérica sob este padroado, e ele respondeu-me. «Então, estamos ainda mais unidos».
Boa noite e obrigado pela vossa atenção e paciência.

                                                                                              + José Cordeiro"


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